25 julho 2013

Ceira, Briosa e a Taça de Portugal

O que têm Ceira, a Académica e a Taça de Portugal em comum, perguntam vocês. Têm uma curiosidade absolutamente extraordinária e que poucos devem saber.

Como sabem a Briosa venceu a Taça de Portugal por duas vezes. A primeira Taça conquistada pela Briosa foi mesmo na primeira vez que a Taça se disputou, portanto, a Briosa venceu a primeira Taça de Portugal. Foi preciso esperar 73 anos para vermos a Briosa vencer novamente a Taça de Portugal. A curiosidade no meio disto tudo é que directamente ligados ás duas conquistas por parte da Briosa estão dois Ceirenses, um quase de certeza desconhecido da maioria e outro que certamente todos devem conhecer.

Estou a falar de José Maria Antunes e de Rui Miguel, dois Ceirenses que estiveram nas duas vitórias na Taça de Portugal por parte da Briosa.

Vou começar por falar sobre José Maria Antunes.

"Abordar a personalidade excepcional que foi José Maria Antunes Júnior, não se mostra ser uma tarefa fácil, pois para além do Ser Humano de invulgar carácter e afabilidade, estamos a falar do estudante, do desportista e dirigente, do Coimbrão, do médico, do tisiologista, do profissional, do cidadão, do rotário, do amigo, afinal de um HOMEM com agá grande.


Nascido em Sobral da Ceira, distrito da sua amada Coimbra, em 27 de Junho de 1913, viria a deixar-nos a 23 de Março de 1991, após ter sido vítima de doença súbita, exactamente em Coimbra, na Estação dos Caminhos de Ferro, quando se preparava para regressar a casa, depois de ter participado num convívio entre os amantes do “Rugby” modalidade que ajudou a fundar na sua Académica.


Diz-se que não se privava de se passear pelas ruas de Coimbra, no seu fato de linho branco, polainitos e bastão com pega em prata, tudo a condizer e no melhor à época, fazendo as meninas estudantes do seu tempo, andar de cabeça à roda.Também não era indiferente para a turba, quando se apresentava com o seu Descapotável um Austin Haley Vermelho, e tudo fazia realçar ainda mais a sua condição de menino rico.


O “Zé Barrote”, como era carinhosamente tratado pelos amigos, começou a destacar-se nas andanças estudantis, quando em 1936, começou a juntar uma rapaziada e a dar os primeiros passos no Rugby e, na Queima das Fitas do ano seguinte tratou de organizar o primeiro jogo de demonstração, com a “Veterinária e a Comercial”, equipas que foram de Lisboa. O Rugby começou então a ter adeptos, forma-se uma equipa e em 6 Maio de1940, a Académica joga uma final com a Universidade Técnica de Lisboa. José Maria Antunes fazia parte dessa equipa da Associação de Coimbra e foi seu capitão de equipa.

Mas “José Barrote”, também jogava Futebol e tornou-se famoso habituando os adeptos da Associação Académica a vê-lo jogar sempre com um lenço amarrado à cabeça. Como jogador foi um dos primeiros vencedores da Taça de Portugal, tinha 21 anos quando se estreou em 10-02-1935 e jogou durante 9 épocas, fazendo 119 jogos pela sua Associação Académica de Coimbra.


Ficou célebre um dos seus gritos:
- MALTA !......A VITÓRIA É NOSSA!.....


Mais tarde chamado para dirigir como Seleccionador a equipa das Quinas trouxe para a Selecção Nacional uma nova filosofia. O Princípio era simples:

“””SIMPLIFICAR OS PROCESSOS DE ESCOLHA E PREPARAÇÃO DOS SELECCIONADOS, SUBSTITUINDO OS ANTERIORES LARGOS CICLOS DE OBSERVAÇÃO, COM OS JOGADORES A SEREM OBRIGADOS A CONSTANTES VIAGENS SEMANAIS, PARA UMA ESCOLHA DEFINITIVA EM CIMA DE CADA JOGO, COM ALGUNS DIAS DE ESTÁGIO E TREINOS DIÁRIOS POR SECTORES E UM TREINO FORMAL, VERDADEIRO JOGO A SERIO E EXAME FINAL DO CONJUNTO ESCOLHIDO E ARQUITECTADO. ERA UMA TENTATIVA DE PROFISSIONALIZAR O TRABALHO DA SELECÇÃO NACIONAL”””

Teve um primeiro período de três anos como Seleccionador Nacional afirmando-se que foi ele o verdadeiro mentor da grande mudança que levou ao tremendo impacto de Portugal no mundo do Futebol na década de 60. Restaurou depois os seus processos durante uma segunda experiência, para depois não ser tão feliz na sua terceira etapa nesse cargo, incapaz de apurar a Selecção para o Mundial do México de 1970. Saía sob a acusação de que desvirtuara prematuramente a grande “geração” de MAGRIÇOS, mas impusera pela primeira vez o princípio de que o cargo de seleccionador e de treinador de campo seria desempenhado em tempo inteiro.

A sua carreira haveria de ser na Medicina, tal como seu pai que já havia sido médico militar. É com ele que aos dois anos de idade embarca para África devido a mobilização militar. Aos 12 anos regressa a Lisboa e no Colégio Vasco da Gama hoje colégio Sagrado Coração de Maria, pratica Esgrima, Hipismo, Natação e Rugby. Depois entre os 14 e os 19 anos representa o Ginásio Club Português também no Atletismo. Aos 19 anos vai estudar para o Porto e logo a seguir para Coimbra para então ingressar no Curso de Medicina. Depois surge 1942, o casamento com a D. Mercedes Antunes, e o nascimento de Maria José Antunes, única filha do casal.

  Nesse mesmo ano e já formado, é convidado pelo Director do Sanatório do Caramulo, Dr Jerónimo Lacerda com a finalidade de se especializar em TISIOLOGIA, ao que viria a dedicar a sua vida profissional. Havia na altura um famoso especialista, o Dr Manuel Tápia e durante 6 anos o Dr José Maria Antunes, trabalhou na mesma equipa médica. Depois em 1949 vem residir para Lisboa e abre o seu consultório, e viria a fundar o SANATÓRIO DE TORRES VEDRAS, no antigo Convento do Barro em 1956.

Aqui trabalhou durante 35 anos como Director Clínico e ao mesmo tempo Director Administrativo.O Sanatório era visitado frequentemente por diversas individualidades ao mais alto nível, quer Nacional e até Internacional que sempre elogiaram o seu trabalho, empenho e dedicação. Atingiu o limite de idade em 1983, tendo sido necessário um Despacho do Ministro da Saúde para continuar a desempenhar as funções que tinha no Sanatório de T. Vedras. E nesse mesmo ano foi agraciado com a medalha de Serviços Distintos do Ministério da Saúde e Assistência. Neste Sanatório de Torres Vedras são sobejamente conhecidos os relevantes serviços que o Dr José Maria Antunes prestou ao desporto regional e neste caso em todas as modalidades, quando se disponibilizou para chamar a si as Inspecções Médicas (Gratuitas para os Clubes, note-se) para considerar os desportistas Aptos para praticarem cada modalidade sendo que aquelas inspecções eram anuais. Dedicou também o seu trabalho como Delegado da Direcção de Apoio Médico e foi Presidente da Assembleia-geral da Física, em Torres Vedras."



A isto tudo acrescento uma quadra que José Maria Antunes disse em directo na rádio após a conquista da Taça de Portugal:

"São horas de emalar a trouxa
Boa noite Tia Maria
Que a malta ganhava a Taça
Já toda a gente sabia..."


Não conheço nenhum descendente mas seria engraçado saber quem são. A única coisa que sei é o que o texto informa, que teve uma filha chamada Maria José Antunes.



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