O que têm Ceira, a Académica e a Taça de Portugal em comum, perguntam vocês. Têm uma curiosidade absolutamente extraordinária e que poucos devem saber.
Como sabem a Briosa venceu a Taça de Portugal por duas vezes. A primeira Taça conquistada pela Briosa foi mesmo na primeira vez que a Taça se disputou, portanto, a Briosa venceu a primeira Taça de Portugal. Foi preciso esperar 73 anos para vermos a Briosa vencer novamente a Taça de Portugal. A curiosidade no meio disto tudo é que directamente ligados ás duas conquistas por parte da Briosa estão dois Ceirenses, um quase de certeza desconhecido da maioria e outro que certamente todos devem conhecer.
Estou a falar de José Maria Antunes e de Rui Miguel, dois Ceirenses que estiveram nas duas vitórias na Taça de Portugal por parte da Briosa.
Vou começar por falar sobre José Maria Antunes.
"Abordar a
personalidade excepcional que foi José Maria Antunes Júnior, não se
mostra ser uma tarefa fácil, pois para além do Ser Humano de invulgar carácter e afabilidade, estamos a falar do estudante, do desportista e dirigente, do Coimbrão, do médico, do tisiologista, do profissional, do cidadão, do rotário, do amigo, afinal de um HOMEM com agá grande.
Nascido em Sobral da Ceira, distrito da sua amada Coimbra, em 27 de Junho de 1913, viria a deixar-nos a 23 de Março de 1991, após ter sido vítima de doença súbita, exactamente em Coimbra, na Estação dos Caminhos de Ferro, quando se preparava para regressar a casa, depois de ter participado num convívio entre os amantes do “Rugby” modalidade que ajudou a fundar na sua Académica.
Diz-se que não se privava de se passear pelas ruas de Coimbra, no seu fato de linho branco, polainitos e bastão com pega em prata, tudo a condizer e no melhor à época, fazendo as meninas estudantes do seu tempo, andar de cabeça à roda.Também não era indiferente para a turba, quando se apresentava com o seu Descapotável um Austin Haley Vermelho, e tudo fazia realçar ainda mais a sua condição de menino rico.
O “Zé Barrote”, como era carinhosamente tratado pelos amigos, começou a destacar-se nas andanças estudantis, quando em 1936, começou a juntar uma rapaziada e a dar os primeiros passos no Rugby e, na Queima das Fitas do ano seguinte tratou de organizar o primeiro jogo de demonstração, com a “Veterinária e a Comercial”, equipas que foram de Lisboa. O Rugby começou então a ter adeptos, forma-se uma equipa e em 6 Maio de1940, a Académica joga uma final com a Universidade Técnica de Lisboa. José Maria Antunes fazia parte dessa equipa da Associação de Coimbra e foi seu capitão de equipa.
Mas “José
Barrote”, também jogava Futebol e tornou-se famoso habituando os
adeptos da Associação Académica a vê-lo jogar sempre com um lenço
amarrado à cabeça. Como jogador foi um dos primeiros vencedores da Taça
de Portugal, tinha 21 anos quando se estreou em 10-02-1935 e jogou
durante 9 épocas, fazendo 119 jogos pela sua Associação Académica de
Coimbra.
Ficou célebre um dos seus gritos:
- MALTA !......A VITÓRIA É NOSSA!.....
Mais tarde chamado para dirigir como Seleccionador a equipa das Quinas trouxe para a Selecção Nacional uma nova filosofia. O Princípio era simples:
“””SIMPLIFICAR
OS PROCESSOS DE ESCOLHA E PREPARAÇÃO DOS SELECCIONADOS, SUBSTITUINDO OS
ANTERIORES LARGOS CICLOS DE OBSERVAÇÃO, COM OS JOGADORES A SEREM
OBRIGADOS A CONSTANTES VIAGENS SEMANAIS, PARA UMA ESCOLHA DEFINITIVA EM
CIMA DE CADA JOGO, COM ALGUNS DIAS DE ESTÁGIO E TREINOS DIÁRIOS POR
SECTORES E UM TREINO FORMAL, VERDADEIRO JOGO A SERIO E EXAME FINAL DO
CONJUNTO ESCOLHIDO E ARQUITECTADO. ERA UMA TENTATIVA DE PROFISSIONALIZAR
O TRABALHO DA SELECÇÃO NACIONAL”””
Teve um
primeiro período de três anos como Seleccionador Nacional afirmando-se
que foi ele o verdadeiro mentor da grande mudança que levou ao tremendo
impacto de Portugal no mundo do Futebol na década de 60. Restaurou depois
os seus processos durante uma segunda experiência, para depois não ser
tão feliz na sua terceira etapa nesse cargo, incapaz de apurar a
Selecção para o Mundial do México de 1970. Saía sob a acusação de que
desvirtuara prematuramente a grande “geração” de MAGRIÇOS, mas impusera
pela primeira vez o princípio de que o cargo de seleccionador e de
treinador de campo seria desempenhado em tempo inteiro.
A sua
carreira haveria de ser na Medicina, tal como seu pai que já havia sido médico militar. É com ele que aos dois anos de idade embarca para África
devido a mobilização militar. Aos 12 anos regressa a Lisboa e no
Colégio Vasco da Gama hoje colégio Sagrado Coração de Maria, pratica
Esgrima, Hipismo, Natação e Rugby. Depois entre os 14 e os 19 anos
representa o Ginásio Club Português também no Atletismo. Aos 19 anos vai
estudar para o Porto e logo a seguir para Coimbra para então ingressar
no Curso de Medicina. Depois surge 1942, o casamento com a D. Mercedes
Antunes, e o nascimento de Maria José Antunes, única filha do casal.
Nesse mesmo
ano e já formado, é convidado pelo Director do Sanatório do Caramulo, Dr
Jerónimo Lacerda com a finalidade de se especializar em TISIOLOGIA, ao
que viria a dedicar a sua vida profissional. Havia na altura um famoso
especialista, o Dr Manuel Tápia e durante 6 anos o Dr José Maria Antunes, trabalhou na
mesma equipa médica. Depois em 1949 vem residir para Lisboa e abre o seu
consultório, e viria a fundar o SANATÓRIO DE TORRES VEDRAS, no antigo
Convento do Barro em 1956.
Aqui trabalhou durante 35 anos como Director Clínico e ao mesmo tempo Director Administrativo.O Sanatório era visitado frequentemente por diversas individualidades ao mais alto nível, quer Nacional e até Internacional que sempre elogiaram o seu trabalho, empenho e dedicação. Atingiu o limite de idade em 1983, tendo sido necessário um Despacho do Ministro da Saúde para continuar a desempenhar as funções que tinha no Sanatório de T. Vedras. E nesse mesmo ano foi agraciado com a medalha de Serviços Distintos do Ministério da Saúde e Assistência. Neste Sanatório de Torres Vedras são sobejamente conhecidos os relevantes serviços que o Dr José Maria Antunes prestou ao desporto regional e neste caso em todas as modalidades, quando se disponibilizou para chamar a si as Inspecções Médicas (Gratuitas para os Clubes, note-se) para considerar os desportistas Aptos para praticarem cada modalidade sendo que aquelas inspecções eram anuais. Dedicou também o seu trabalho como Delegado da Direcção de Apoio Médico e foi Presidente da Assembleia-geral da Física, em Torres Vedras."
Aqui trabalhou durante 35 anos como Director Clínico e ao mesmo tempo Director Administrativo.O Sanatório era visitado frequentemente por diversas individualidades ao mais alto nível, quer Nacional e até Internacional que sempre elogiaram o seu trabalho, empenho e dedicação. Atingiu o limite de idade em 1983, tendo sido necessário um Despacho do Ministro da Saúde para continuar a desempenhar as funções que tinha no Sanatório de T. Vedras. E nesse mesmo ano foi agraciado com a medalha de Serviços Distintos do Ministério da Saúde e Assistência. Neste Sanatório de Torres Vedras são sobejamente conhecidos os relevantes serviços que o Dr José Maria Antunes prestou ao desporto regional e neste caso em todas as modalidades, quando se disponibilizou para chamar a si as Inspecções Médicas (Gratuitas para os Clubes, note-se) para considerar os desportistas Aptos para praticarem cada modalidade sendo que aquelas inspecções eram anuais. Dedicou também o seu trabalho como Delegado da Direcção de Apoio Médico e foi Presidente da Assembleia-geral da Física, em Torres Vedras."
A isto tudo acrescento uma quadra que José Maria Antunes disse em directo na rádio após a conquista da Taça de Portugal:
"São horas de emalar a trouxa
Boa noite Tia Maria
Que a malta ganhava a Taça
Já toda a gente sabia..."
O texto que apresentei encontrei no blogue Rotary Club de Torres Vedras quando andava à procura de mais informações sobre o José Maria Antunes. Penso que a informação é suficiente e demonstrativa da importância que este Ceirense teve no desporto e saúde nacional.
Não conheço nenhum descendente mas seria engraçado saber quem são. A única coisa que sei é o que o texto informa, que teve uma filha chamada Maria José Antunes.
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